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(Sobre) vivências 

Chelsea Karina de Brito

Após sofrer um acidente e ter parte do corpo queimado, Tatiane Jansen encontrou forças para continuar

Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte

Porque apesar de muito moço, me sinto são e salvo e forte

Belchior

            Sorte: substantivo feminino, força invencível e inexplicável da qual derivam todos os acontecimentos da vida, destino. Esta é a definição escolhida pelo dicionário e da dona desta história também. Tatiane Ribeiro Jansen nasceu em 18 de dezembro de 1989 e sempre encarou a vida com leveza, tentando manter o equilíbrio e sem pender para nenhum dos extremos.

             Em um dia comum, cozinhando com marido para família e amigos, ela sofreu um grave acidente: ao cozinhar um entrevero, em um disco, utilizando latas de alumínio e álcool como combustível, em um momento de descuido, houve uma explosão: o galão que continha o álcool pegou fogo, as latas explodiram, a gordura da comida estourou em várias partes do seu corpo, principalmente rosto, braços e tronco. “A gritaria começou imediatamente, eu lembro que alguém tirou minha camiseta — acredito que tenha sido meu esposo ou minha amiga que estava mais próxima — eles me derrubaram no chão para tentar ajudar a apagar o fogo, ele pegou na minha roupa, no rosto, em tudo, porque era gordura. Lembro que abri os olhos e vi as chamas bem na minha frente”, relembra.

             Ao ver a filha chorando, o marido em choque, a família desesperada, ela delegou funções a todos: encontrar os documentos para apresentar no hospital, uma toalha molhada para aliviar a dor. “Chegamos no hospital, a ardência já estava ficando insuportável. Não era exatamente dor, mas sim ardência. Eles começaram a colocar muito soro em mim, o que ajudou a aliviar a ardência. Lembro que parecia uma eternidade, mas demorou cerca de uma hora, talvez mais, para o médico chegar e me atender”.

            Entre doses de morfina para aliviar a dor nas primeiras horas após o acidente e uma sequência de procedimentos diários que buscavam tratar a pele, Tatiane ficou internada 14 dias. “O meu médico realizou um procedimento chamado de debridamento. Me levavam para o centro cirúrgico, me sedavam e faziam o procedimento, que basicamente consiste em usar uma escova para retirar a pele morta. Era necessário remover a pele necrosada e aplicar antibiótico”, explica.

             A recuperação foi um processo de paciência, terapia para tentar entender o que havia acontecido e superar os traumas que o acidente causou. Tatiane conta que, durante o período em que esteve internada, houve outro acidente e a pessoa não sobreviveu. Meses depois, quando já tinha voltado ao trabalho, ocorreu mais um acidente semelhante, e a pessoa também não sobreviveu. “As pessoas me dizem: ‘Ah, você é um milagre!’, mas eu não me sinto assim. Sou muito agradecida, claro, mas não sei se a diferença é ser um milagre ou só sorte. Eu me sinto sortuda, porque sei que ainda tenho muita coisa para fazer aqui”, enfatiza.

             Hoje, trabalha como assistente administrativa. Com sorriso no rosto, postura determinada, personalidade forte, ela segue construindo seu caminho. E, apesar de algumas cicatrizes no corpo, exala a certeza de que elas não a definem e, sim, as escolhas que fez e faz, e o processo que superou. Mãe de dois filhos, uma menina de 10 anos e um menino de seis, percebe que, após o acidente, passou a dar mais valor à própria vida e à família. “Pode parecer clichê, mas a vida realmente é um sopro”, finaliza.

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Após o acidente, Tatiane passou a dar mais valor à própria vida e à família. Foto: Chelsea Karina de Brito

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