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Cinema em crítica

Entre melancolia e esperança:

O filme Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2009) e a poesia visual do cinema brasileiro

Viviane Almeida Moreira

              Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2009), de Marcelo Gomes e Karim Ainouz, é um filme-de-estrada que conta a história de José Renato (Irandhir Santos). Geólogo, 35 anos, foi enviado para realizar uma pesquisa de campo durante a qual terá que atravessar o sertão nordestino. Durante a viagem, percebe-se que há algo comum entre o protagonista e os lugares por onde ele passa. Desde o vazio a uma sensação de abandono, isolamento, misturados com a saudade da
esposa. 
               O filme começa com o personagem narrando sua trajetória geograficamente mas, aos poucos, o sentimento de tristeza e abandono vai crescendo e ele deixa de ser o geólogo e passa a ser apenas José Renato: alguém que sofre de saudade da mulher, deixada para trás. Conforme o tempo vai passando, a verdadeira história dele vai sendo desvendada.
               Karim Ainouz é certamente um dos melhores captadores da essência brasileira que existe. Uma filmagem crua, mas que ao mesmo tempo agrada. O longa-metragem é produzido com imagens capturadas pelos cineastas, fotografias de quartos de hotel, lugares e pessoas, inclusive cenas de Sertão de Acrílico Azul (2004), dos mesmos diretores. O protagonista aparece somente em 1ª pessoa e apenas com sua voz. As cenas foram registradas na Bahia, no Sergipe, no Ceará,
em Alagoas e em Pernambuco. As imagens refletem desolação, melancolia e esperança, e é por isso que o uso da narração é tão necessário: para dar vida aos fragmentos.
               Apesar de ser a junção de várias imagens gravadas por diferentes pessoas, o filme é bem estruturado e aproxima o espectador do cinema nacional, fazendo também com que a pessoa se sinta próxima de José, visto que o longa se passa através de sua perspectiva. O documentário é feito a pleno lirismo, mesclando as vivências do personagem com doses de psicologia, filosofia e universalismo. Durante a narração, é possível sentir na pele o “pé na bunda” vivido pelo
personagem. Com certeza, é um dos melhores usos da narração das últimas 
décadas do cinema, no qual os diretores encontraram o ponto exato onde a imagem e a narração se complementam.
               A vida de cada uma das pessoas que são mostradas no decorrer da história é triste e sem esperança. Outro ponto importante é a maneira como a experimentação com a ficção documental unidas ficam mais bonitas. As outras obras de Karim também partem para este elo melodramático, mas a força da narração no projeto em questão é trabalhada de uma forma melhor. Além disso, a
trilha sonora escolhida combina muito com cada cena, o que deixa o filme ainda mais interessante. Viajo porque preciso, volto porque te amo é uma experiência curta, mas que pode mudar a vida de alguém por aí.

“Se aqui tivesse correio, eu mandava um telegrama para você com essas palavras:viajo porque preciso, volto porque te amo.” - José Renato.

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