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Ana Maria Matias participou de seu primeiro concurso ainda bebê, aos 4 meses. Após anos competindo, hoje, aos 23 anos de idade, ela ainda encara consequências em sua saúde mental.

Ana Lara Chagas Oliveira 

A pressão da beleza infantil

A exposição ao julgamento de aparência precoce pode acarretar consequências até na vida adulta 

              Concursos de beleza são eventos que misturam brilho, glamour e competição acirrada. Desde as passarelas até as performances, pessoas de todas as idades, inclusive crianças, são treinadas para impressionar os jurados com suas habilidades e, principalmente, aparências. No entanto, surge o questionamento sobre as consequências que a exposição contínua a esses ambientes podem causar em crianças.

              O filme Pequena Miss Sunshine (2006) oferece uma representação bem-humorada e crítica desse universo. A comédia dramática acompanha a jornada de Olive, 7 anos, e sua família em uma viagem até um concurso de beleza infantil. Enquanto o filme explora as dificuldades e os absurdos dos concursos, ele também levanta questões sobre a pressão exercida sobre as crianças para atingir padrões de beleza e desempenho impossíveis, ainda mais pelo fato de a protagonista não se enquadrar nos padrões de beleza esperados para estes concursos.

              Em uma sociedade cada vez mais preocupada com a imagem e com a crescente exposição infantil ao julgamento, por causa das redes sociais, esses concursos geram debate sobre os impactos psicológicos que podem causar nas crianças. Alguns especialistas argumentam que a exposição a competições de beleza em uma idade tão jovem pode prejudicar a autoestima e gerar distúrbios de imagem corporal no futuro. 

              Ana Maria Matias, 23 anos, é um exemplo dessas consequências. A jovem foi inserida no meio de competições de beleza e participação em desfiles aos 4 meses de idade. A mãe, que realizava trabalhos de modelo, foi convencida por uma loja a inscrever a menina em um concurso em que estavam promovendo, mesmo que o pai não fosse a favor. “Até os meus 14 ou 15 anos, era um mundo ideal que eu tinha construído e eu acreditava que iria conseguir atingir um patamar alto dentro daquele espaço. Eu tive um problema muito nova e precisei realizar um tratamento com hormônios dos 7 aos 12 anos, para atrasar a minha menstruação, que fazia meu corpo passar por muitas mudanças, o que fazia eu me comparar muito. Em alguns dias eu ‘secava’ e em outros estava muito inchada”, explica.

              A jovem lida com problemas de autoestima e saúde mental, os quais relaciona como consequência de todos os anos no ambiente de concursos até hoje, mesmo que na época gostasse de participar dos eventos. Enfrentou questões como bulimia e ansiedade e ainda não tem um bom relacionamento com a comida, além de apresentar comportamentos negativos relacionados à autoestima.

              Seu último concurso foi aos 15 anos, para ser a Rainha Expocop 2016. Devido às aplicações de injeções hormonais, Ana sente que sua mudança de corpo da infância para a adolescência ocorreu do dia para noite, o que a fez começar a ouvir comentários negativos de pessoas envolvidas com o concurso. “Eu acredito que, se eu tivesse um psicólogo me acompanhando na minha época de concursos, na infância e na adolescência, eu não teria guardado tanto as coisas só para mim, eu teria aprendido a me defender de certos comentários”, conclui Ana.

              O psicólogo Lucas Montanini explica que a participação em concursos de beleza podem deixar marcas na vida adulta. “O problema de sempre estar associando a aparência à aprovação do outro é que você acaba não tendo um autoconceito. Todo comportamento que a gente tem vai ter algumas consequências. Então, uma experiência negativa na infância pode gerar um adulto muito inseguro, que não tem uma autoimagem positiva, e está sempre na busca por aprovação”, comenta Montanini.

              Mas participar de competições que envolvem a aparência não precisa ser uma experiência que deixa feridas. Com observação e cuidado ativo dos pais, esses momentos podem gerar memórias positivas. Confira na segunda parte da reportagem.

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