Ana Lara Chagas Oliveira e Emely Cardoso
Fake News em tempos de crise: como a desinformação prejudica a sociedade
A crescente disseminação de notícias falsas traz desafios para identificar mentiras e verdades, afetando diversos aspectos sociais, como política e saúde.
As fake news são uma forma de desinformação, muitas vezes compartilhadas com o objetivo de prejudicar ou difamar uma pessoa ou grupo. No Brasil, essas “notícias” passaram a ter mais força e ganhar destaque em 2016, durante o período eleitoral municipal, invadindo ainda mais as redes sociais em 2018, nas eleições presidenciais.
Hoje, é possível perceber que as fake news ultrapassam o cenário político. A desinformação pode afetar diferentes áreas da sociedade. O cientista político, jurista e jornalista, Rogério Carlos Born, classifica as notícias falsas em três maneiras de execução.
“A desinformação pode ser gerada de algumas formas. A primeira, veiculando um fato que não ocorreu, uma mentira. A segunda é o que se chama de boato, uma fofoca, o que quer dizer que a notícia pode ser até verdadeira, mas não há provas, não é possível confirmar a informação. E a terceira forma é uma notícia descontextualizada, então a notícia é verdadeira, mas a abordagem que se dá apresenta uma conotação mentirosa”, explica Born.
O imediatismo das redes sociais e a possibilidade de acesso a todo o tipo de conteúdo em massa faz com que a desinformação seja espalhada mais facilmente, já que é comum pessoas lerem manchetes e compartilharem sem qualquer verificação. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva revelou que oito em cada dez brasileiros já acreditaram em uma fake news e, mesmo assim, 62% confiam na própria capacidade de identificar uma matéria mentirosa.
Para a jornalista Aline Reis, jornalista do Jornal Plural, muitas pessoas acreditam nesse tipo de conteúdo porque ele é feito para causar dúvida. “Para a desinformação ‘vingar’, são usados os critérios de valor-notícia e de noticiabilidade, a relevância, o imediatismo. Mas, via de regra, ela nasce com propósito de poder, geralmente político. A desinformação não pode ser tão absurda ao ponto de ser inacreditável, ela tem elementos da verdade que dão sentido e materialidade, e a pessoa que lê fica em dúvida”, pontua.
Hoje, no Brasil e no mundo, existem agências jornalísticas de checagem, que tem como objetivo verificar se uma informação divulgada na internet, seja em vídeo, foto, texto ou áudio, é verdade ou desinformação. A jornalista Carol Macário trabalha com a Lupa, uma agência de checagem de notícias, que busca combater a desinformação por meio do fact-checking e da educação midiática.
Carol explica que, além da checagem, é importante apresentar os locais de onde as informações foram retiradas. Assim, o leitor começa a entender como verificar quando recebe uma notícia que causa dúvida.
“O trabalho de um repórter sempre é muita apuração, confirmar e verificar a informação diversas vezes antes de publicar. Na nossa metodologia de checagem, uma das coisas que é muito importante é ser o mais transparente possível. A gente privilegia fontes públicas, dados públicos, aquilo que seja acessível para que as pessoas possam também verificar e confirmar por elas mesmas” , explica a
jornalista.
Como a Inteligência Artificial impulsiona o crescimento dos movimentos negacionistas?
Nos últimos anos, as tecnologias de inteligência artificial (IA) são cada vez mais aprimoradas para que imagens, textos e vozes geradas tenham o mínimo de erros. Mas ainda é possível identificar um conteúdo que não é real.
“Existem muitas ferramentas hoje que nos ajudam. É possível usar a inteligência artificial a nosso favor para ajudar a identificar se uma imagem é verdadeira. Existe o olhar atento também. Olhar para imagem e ver se está borrada, confirmar se a pessoa que aparece tem todos os dedos, perceber esses detalhes”, explica Carol.
Para Born, o maior problema criado pela inteligência artificial hoje são as deep fakes, ou seja, conteúdos criados a partir de IA capazes de reproduzir a aparência e, até mesmo, a voz de alguém.
“Utilizam a imagem de pessoas famosas para tentar vender produtos. Circularam vídeos do Drauzio Varella vendendo remédios. Também teve um vídeo do apresentador Marcos Mion em um anúncio de um produto que prometia a cura do autismo. As imagens são perfeitas, as pessoas acreditam”, comenta o cientista político, Carlos Born
Outro problema causado pelo aumento das fake news é o crescimento de movimentos negacionistas científicos, como o antivacina. O movimento ganhou ainda mais força durante a pandemia do Covid-19.
“No contexto da pandemia, a desinformação influenciou a opinião das pessoas sobre o que estava acontecendo. As vacinas foram muito atacadas, e isso teve um efeito prático. A desconfiança e a desinformação sobre a vacina contra a Covid-19 foi tanta, que isso se estendeu para outras vacinas. O Brasil sempre foi reconhecido internacionalmente pelo Programa Nacional de Vacinação (PNI) e a gente viu uma queda de vacinação de doenças que são evitáveis, mas que podem resultar em morte, como o sarampo, a poliomielite, que estavam praticamente erradicadas”, destaca Carol.
A título de exemplo, até junho de 2024, segundo dados do Ministério da Saúde, algumas campanhas de vacinação estão com a cobertura abaixo do esperado, são elas febre amarela (64,71%), segunda dose da tríplice viral (65,43%), varicela (67,83%) e dTpa adulto (66,98). Até agora, nenhuma das campanhas atingiu a meta de cobertura desejada, poucas atingiram 80%.
Sobre o combate da desinformação, Carol acredita na educomunicação e na alfabetização midiática como formas de combate, mesmo que os resultados venham a longo prazo. “A educação midiática precisa ser incluída em escolas, em universidades. É relembrar, ou ensinar mesmo, a pensar como a gente se informa, como consultar um conteúdo na internet, como pesquisar, como verificar se é verdadeiro ou falso. Isso é uma coisa que a gente aprende desde cedo e deve ser incentivado desde cedo, para que as pessoas tenham o hábito de confirmar a informação e de não compartilhar uma informação que não tem certeza”.
Confira a entrevista completa com a jornalista Carol Macário no Meridiano no Youtube. Clique no link abaixo:



Cientista Político, Rogério Carlos Born, durante entrevista via Meet.
Aline Reis é Jornalista e especialista em Gestão da Comunicação, Assessoria e Marketing pela Universidade Positivo.
Carol Macário, jornalista e repórter da Agência de checagem de informação, Lupa