Jornalismo com propósito

Ana Gabriela Alves

A necessidade de dar voz aos pequenos agricultores e o lado humano do agronegócio

                 Adriana Souza, aos 38 anos, é jornalista e empreendedora com raízes profundas no agronegócio. Cresceu em Palmital, no Paraná, onde viveu até os 17 anos. Vem de uma família de pequenos agricultores e, por estar sempre cercada pela rotina do campo, aprendeu desde cedo sobre os desafios da agricultura familiar e como a vida no meio rural exige resiliência. “Minha família tinha duas propriedades, desde criança eu via como o trabalho no campo é árduo, mas essencial. Isso me marcou profundamente e moldou minha visão de mundo”.

                 A transição para o empreendedorismo trouxe novos desafios à jornalista. Formada em uma área tradicionalmente voltada a preparar funcionários, ela se deparou com exigências próprias do mundo empresarial. No entanto, sua experiência de seis anos junto à Associação Comercial de Irati foi fundamental para esse processo de criar seu próprio veículo de comunicação. Ao realizar coberturas de eventos e participar de cursos e palestras voltados ao público empresarial, Adriana adquiriu conhecimentos práticos em administração, gestão financeira e de pessoas, essenciais para o novo caminho que escolheu trilhar.

                 Esses aprendizados também ampliaram a percepção dela sobre o agronegócio e as realidades enfrentadas por pequenos agricultores. “Há um estereótipo de que o agronegócio é só sobre grandes fazendeiros ricos. Na verdade, quase 77% dos agricultores no Brasil são da agricultura familiar. Eles são responsáveis pela maior parte dos alimentos que chegam à nossa mesa, mas enfrentam enormes desafios que raramente são noticiados”.

                  Foi essa a mentalidade que impulsionou Adriana a criar um espaço onde pudesse destacar a diversidade do setor, pois sempre sentiu a necessidade de valorizar tanto os pequenos quanto os grandes produtores. Seu objetivo é mostrar o lado humano do agronegócio, para promover com seu produto jornalístico uma compreensão mais profunda entre a cidade e o campo. “Quero que as pessoas entendam o quanto dependemos desses agricultores. Sem eles, não há alimento. Eles enfrentam questões como estradas rurais precárias para escoar a produção, e isso não ganha a atenção que merece”.

Vida pessoal

                  Além de sua dedicação ao jornalismo, Adriana também é mãe de um garoto de 12 anos. Quando começou a empreender, ele tinha apenas 5 anos. Ela conciliou a maternidade com sua vida profissional, levando o filho aos eventos e compromissos, o que fortaleceu a relação entre os dois. “A nossa rotina era intensa, mas ele sempre esteve comigo, aprendendo e acompanhando de perto. Hoje, ele admira o que faço e entende a importância do meu trabalho”.

                  Quando precisa se reconectar consigo mesma, Adriana encontra na natureza um refúgio essencial. “A questão para conciliar a vida pessoal e profissional é um constante aprendizado, principalmente depois que você se torna empreendedora, pois há muitas responsabilidades que recaem sobre seus ombros. É um grande desafio manter a saúde mental diante de tudo isso.” Sempre que conclui um projeto particularmente exaustivo, ela busca se refugiar no contato com a natureza, como uma forma de relembrar o propósito que a motiva a se dedicar com tanto afinco ao seu trabalho.

                  A jornalista acredita no poder transformador da comunicação para valorizar o setor agrícola e aproximar a sociedade urbana do dia a dia no campo. Para ela, cada história contada é um passo em direção a um futuro mais inclusivo e informado, onde agricultores, independentemente do porte, sejam reconhecidos por sua contribuição vital à economia e à segurança alimentar do país. “Eu sei que é um trabalho de formiguinha, mas acredito que cada pequena mudança que conseguimos trazer já faz a diferença. Se cada um fizer sua parte, podemos construir uma sociedade mais consciente e justa”, comenta.