Nos bastidores da política: de parlamentar a servidor aposentado
As memórias de Joarez Campos Ribas, em quase cinco décadas na Câmara de Vereadores de Guarapuava
Heloisa Zolinger
Em 1853, nas mãos de doze eleitores, nasceu a Câmara Municipal de Guarapuava, sob a liderança de Manoel Marcondes de Sá. Os primeiros vereadores - Francisco Ferreira da Rocha Loures, Antonio de Sá Camargo e Joaquim José de Lacerda - desempenhavam funções tanto legislativas quanto executivas, traçando os primeiros passos de uma cidade em formação.
Desde então, a Câmara Municipal de Guarapuava tem sido testemunha e protagonista da transformação do município. Com mais de 94 mil votos válidos contabilizados em 2024, a cidade se transformou em um espaço de ampla participação popular.
Ao longo de 171 anos de história, a Casa de Leis de Guarapuava firmou-se como um espaço marcado pela representação de várias personagens locais. Entre elas, está o ex-vereador e técnico legislativo aposentado, Joarez Campos Ribas.
Em 1972, a Câmara Municipal era composta por 21 vereadores, representando os partidos Arena (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Foi nesse cenário que Joarez, com uma base no movimento estudantil secundarista, decidiu ingressar na política. Como participante da União Guarapuavana dos Estudantes Secundários, ideais políticos e sociais moldaram sua trajetória.
Joarez exerceu o cargo de vereador de 1972 a 1988 e, posteriormente, de 1992 a 1996, sempre pelo MDB. Em 1996, decidiu prestar concurso para o cargo de técnico legislativo da Câmara. Ele permaneceu nessa função até outubro de 2024, quando se aposentou, aos 74 anos. “Sempre fui muito curioso e busquei estudar mais. A leitura me acompanhou, pois o conhecimento é a única coisa que ninguém pode tirar de você. E nunca devemos temer errar. Errar faz parte do processo de quem busca fazer algo significativo”, reflete.
Contudo, a jornada política não foi isenta de desafios e desilusões. O aposentado explica que não foi possível mudar o mundo, como esperava. “Quando entramos na política, temos uma visão idealizada de mudança. Com o tempo, percebemos que nossa atuação é limitada. O papel do legislativo é fiscalizar o uso do dinheiro público e legislar em benefício da comunidade”, pondera.
Na década de 1970, Guarapuava enfrentou restrições políticas impostas por atos institucionais da época da Ditadura Militar, que limitavam o acesso a vereadores remunerados para municípios com menos de 300 mil habitantes. “Naquele tempo, havia vereadores em Pinhão, Cantagalo e Turvo que pagavam para exercer a função. As sessões eram diárias e a idealização do trabalho legislativo era intensa. Hoje, os vereadores têm uma estrutura que facilita sua atuação, mas naquela época, legislar era um desafio enorme, cada projeto precisava ser elaborado do zero, muitas vezes à mão”, destaca Joarez. Essa modernização acelerou a elaboração de planos e fortaleceu a capacidade dos vereadores de atender às demandas da comunidade.
Joarez atuou em Guarapuava e também no distrito de Palmeirinha, onde os moradores buscavam melhorias nas condições de vida, como a construção de escolas e a reparação das estradas. Entre suas ações, ele menciona, que esteve a expansão da linha telefônica para o interior, garantir o fornecimento de água potável e instalar a sede do Banco do Paraná em Palmeirinha. Além disso, ele conta que esteve envolvido no processo de emancipação política de Campina do Simão e Turvo, trabalhando com vereadores locais nas discussões sobre autonomia municipal.

Vereadores reunidos para celebrar os 170 anos do Poder Legislativo Municipal, em 2013. Foto: Assessoria
Ao longo de sua carreira, Joarez vivenciou muitos episódios no Poder Legislativo, como aquele em que 10 votos derrotaram 11. "Pode até parecer impossível, mas não foi. O vereador mais confiável da época fingiu que votou a favor de um projeto do seu partido, mas, na verdade, ele não votou em nada. Então, os vereadores favoráveis ao projeto decidiram deixar a Câmara e criar um novo espaço legislativo na Casa de Padres, ao lado da Catedral Nossa Senhora de Belém. Essa situação durou algumas semanas, mas acabou piorando para os dois lados, porque precisávamos de uma maioria para aprovar os projetos”, o aposentado explicou que sem o apoio do restante da bancada, nada pode ser aprovado. “Muitas tentativas foram feitas para reunir novamente a Câmara, mas foi só o bispo Dom Frederico Helmel, que conseguiu reunir as duas partes novamente”, conta Joarez.
Até a aposentadoria, no início de outubro deste ano, Joarez trabalhou na Secretaria da Casa de Leis. O espaço recebe tudo o que tramita no Poder Legislativo Municipal. “Este é o coração da Câmara Municipal, onde os projetos vindos do Executivo precisam passar. A tramitação deles é nossa responsabilidade. Cabe à secretaria legislar sobre como os projetos devem avançar, quais comissões devem opinar e garantir que tudo esteja tecnicamente adequado”, enfatiza Joarez.


