Viviane Almeida Moreira
“É como vestir a noiva com roupas chiques, sem antes dar banho nela”
A história de Stanislaw Galant, o padre que já foi exorcista
Stanislaw Galant nasceu em agosto de 1947, na cidade de Milejów, Lublin, na Polônia. Na época, era um país comunista. Ele fez faculdade de Filosofia e Teologia e estudou para ser padre. Ele conta que naquele tempo “a esquerda” estava muito forte e alguns colegas criaram movimentos do regime “de direita”. Muitos foram presos e mortos. Ele fez parte do movimento a favor da liberdade e da democracia, mas acabou sendo roubado, teve documentos destruídos e foi perseguido.
No dia 20 de agosto de 1979, o padre saiu da Polônia e fez uma viagem de trem até Roma (Itália). Ao cruzar a fronteira, o medo de ser preso tomou conta. Mesmo assim, ele saiu do país, pois tinha o sonho de trabalhar nas missões clericais romanas. Após um mês na Itália, Stanislaw embarcou em um navio de 1.500 passageiros e veio para o Brasil, passando por Lisboa (Portugal) e Rio de Janeiro, até desembarcar em Santos (SP) no dia 1º de outubro.
Quando chegou aqui, os amigos foram buscá-lo e ele partiu para Curitiba, no Paraná. Durante os primeiros dois anos no Brasil, o padre se dedicou a aprender a língua portuguesa. Atualmente, reside em Manoel Ribas, no Paraná, e está aposentado.
Os anos vermelhos - a atuação como exorcista
Durante os anos em que residia em Curitiba e com a autorização do bispo, Stanislaw vivenciou alguns momentos frente a frente com a “entidade do mal”. “Por muitos anos, eu vi o diabo com meus próprios olhos”, ele diz. A primeira vez em que teve esse encontro foi na casa de um cidadão comum, mas que estava conturbado há alguns dias. Ao chegar na casa do homem, o padre guarda memórias dos quadros nas paredes da casa, representando super-herois. Uma cena foi marcante para o padre, que afirma ter presenciado o homem andando pela sala de uma forma perturbada. Ao ver isso, Stanislaw tentou agarrá-lo, o levou até o quarto e o derrubou na cama. Nesse momento, começou a rezar muito e pedir para Deus livrá-lo dessa tentação. Depois de muita oração, o homem se acalmou e o padre conseguiu libertá-lo.
Alguns exorcismos foram marcantes, mas um em especial é marcante por ter sido o mais duradouro: foram dez horas de luta. Certa vez, quando atuava como pároco, uma senhora foi até ele com a irmã dela e a filha, que era estudante universitária. Stanislaw conta que, na época, a menina estava se comportando como “louca e perturbada”. As três estavam sentadas em frente ao padre, com a menina em silêncio. Enquanto pensava em maneiras de abordar a garota, o padre se lembrou das relíquias de Santa Cruz que ele guardava no armário. Levantou e foi buscar um frasco com um líquido dentro. “Eu peguei o vidrinho, mostrei para a menina e disse: ‘olhe aqui, nesse vidro tem sangue que Jesus derramou pela nossa salvação e um pedacinho da cruz de Cristo’”, diz. No momento em que falou isso, a estudante se jogou da cadeira até o canto da sala muito assustada. “Quando eu aproximei o vidro e uma cruz nela, ela gritava: ‘eu sou Lúcifer, me deixa em paz’. Ao ouvir aquele nome, eu fiquei todo arrepiado, pois nunca imaginava que um dia iria conversar com o chefe dos diabos”, compartilha Stanislaw. Após isso, a mãe e a tia da garota saíram da sala e o padre passou as próximas oito horas rezando e tentando libertá-la. Naquele dia, ele não conseguiu, então precisou de mais duas horas do outro dia para terminar seu trabalho. “Foram dez horas de luta e muita oração. Durante esse tempo, eu perguntava ao Senhor o que fazer e ele me diziaque, para se libertar, é preciso do perdão”, conta.
Os anos de exorcismo foram poucos, mas marcantes. Stanislaw não atua mais nesta área há anos. Ele conta que, além das experiências com exorcismo, também já conversou pessoalmente com adeptos do satanismo. Quando estava em Santos (São Paulo), o padre conheceu um satanista que afirmava “possuir um pacto com o diabo”. Segundo ele, esse homem tinha uma mansão, uma parte era a casa ea outra o templo, onde tudo era preto por dentro. “Um tempo depois, ele se converteu, vendeu a mansão e dizia que toda hora o diabo pedia que ele voltasse.Um ano depois de se converter, ele faleceu, comenta o padre. Apesar de não atuar mais na área, Stanislaw diz que confia fielmente que a salvação depende do batismo e da confissão e o que liberta as pessoas do mal é a confissão, por isso é necessário se livrar de tudo de ruim que há dentro da alma. “Exorcismo é como vestir a noiva com roupas chiques, sem antes dar banho nela”, finaliza Stanislaw Galant.

Stanislaw Galant, 77 anos. Atua como Padre Mariano da Imaculada Conceição na Paróquia Santo Antônio, Diocese de Guarapuava, em Manoel Ribas, no Paraná. Foto: Arquivo pessoal


